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Alguns livros que não valem a pena ser lidos

(trabalho de escrita de Markus Schmid, aluno da Ciberescola, nível avançado, a 9/92/2014).

A minha viagem a través da literatura lusa foi, e está sendo, um enriquecimento enorme, descobri muitos autores, muitos livros que ampliaram o meu horizonte, que me permitiram participar em histórias que tiveram lugar em países longínquos, em culturas diferentes da minha, países e culturas que,  sem esta leitura teriam ficado inacessíveis para mim. Mas também li alguns livros cuja leitura foi um esforço vão. Começo com as obras que não consegui ler até o fim:
Vasco Graça Moura, A Morte de Ninguém – Escolhi o livro porque alguém me disse que este autor era uma figura importante da literatura portuguesa. Li a metade do livro e achei chatíssimo. Conta com um estilo pouco original e grandiloquente, uma história de uma mulher que deveria ser misteriosa (a história, e a mulher também) mas que não chegou a despertar o meu interesse. No fim, atirei com o livro a uma parede e não voltei a apanhá-lo até hoje. Mas na semana passada li que o autor em questão recebeu um prémio importante das mãos do Presidente da República. E no ato da entrega do prémio estavam presentes pessoas tão importantes como o Primeiro-Ministro Passos Coelho. Sinto-me um pouco sozinho e abandonado na minha opinião sobre Vasco Graça Moura. Será que estou errado?
Valter Hugo Mãe – O filho de Mil Homens – Deste livro li apenas três capítulos. O primeiro capítulo não achei tão mal assim. É a história de um senhor que não tem mulher nem filhos e que sente a falta de ser pai. Põe-se então a procurar um filho. Está escrito como um livros para crianças, o tom é um pouco condescendente.
O segundo capítulo trata de uma senhora anã, que vive numa aldeia, e todo o mundo tem pena dela, até que as senhoras do lugar descobrem que ela tem uma cama de matrimónio, uma cama não feita para o repouso de uma anã, mas uma cama para fazer filhos. E um dia, a senhora pequena realmente fica grávida, mas de quem? Vimos a saber que a anã teve relações sexuais com quase todos os maridos das senhoras protetoras dela. Neste capítulo, o autor demora muito nas fantasias das senhoras que imaginam o ato sexual entre a protagonista tão pequena com um senhor de tamanho normal. Descreve as anomalias anatómicas de uma maneira desalmada que me repugna.
            O terceiro capítulo trata de uma senhora que um dia desperta falando com um sotaque francês. Ai deixei a leitura, já que esta parte do texto tão esforçadamente fantástica não chegou a corrigir a impressão péssima que me deixaram as passagens anteriores do livro. Este autor também é muito galardoado e vende-se em Portugal. Parece que mais um vez não acertei com o meu julgamento.
Seguem os livros que infelizmente li até o fim:
Maria Teresa Loureira - Encontro no teu Olhar - A protagonista do romance, uma mulher jovem de 22 anos entra num café misterioso situado numa viela escondida da cidade onde mora. Ali, ela  começa a estudar as pessoas que lá se reuniam. A primeira vez que vai tomar a sua bica nessa cafetaria, entra ali voluntariamente, mas depois, a rapariga é levada como por uma voragem, ela esquece-se das obrigações da sua vida; ir ao café torna-se num ato compulsivo, vicioso. A menina entra nas vidas dos outros fregueses e participa nelas sem que estes tomem nota dela. A protagonista afasta-se sempre mais da sua vida real para se perder num enredo tal que já não é capaz de distinguir realidade e sonho. O resumo não soa mal, a história tem até um ar misterioso, borgiano. Mas durante a leitura, o mistério se faz-se vulgar, as histórias das pessoas do relato estão longe de ser originais e vivas, são rebuscadas, chatas e cheias de lugares comuns. Bem vistas as coisas, este romance não passa de ser uma palhaçada sem pés nem cabeça. Mas é muito provável que também desta vez esteja errado com a minha opinião já que, em 2011, Maria Teresa Loureira ganhou o Prémio Máxima Revelação com este livro.
Há ainda mais livros que li sem prazer, que preferiria não ter lido, por exemplo “Por detrás das Paredes” de Alexandra Quadros, “Foi Assim que Aconteceu” de Teresa Font e, aqui se trata talvez da culminação das besteiras literárias, “O Diário dos Infiéis” de João Morgado. Mas na mesma maneira que não é divertido ler livros maus, não é bonito escrever sobre eles. Por isso, no futuro vou concentrar-me nas experiências positivas que são maioritárias. A minha aventura portuguesa continua. Ainda há muitas obras metropolitanas, brasileiras e africanas por descobrir.